"Mudança" de área

[saragsilva]

Bom dia a todos. Peço desde já desculpa pela longa mensagem mas gostaria de saber se há alguém numa situação semelhante.
Para a minha bolsa de pós-dout, decidi concorrer numa área diferente do meu dout (mas não despropositadamente). O problema é que temos de nos colocar em "caixinhas", e a minha caixa antiga já não satisfazia a evolução dos meus interesses. No entanto, apesar de ser uma mudança de departamento, não é de todo uma mudança de área desproporcionada ou abrupta, mas sim o evoluir natural dos meus interesses pessoais e de investigação sobre teorias evolutivas e aplicações científicas a nível cultural que desenvolvi ao longo do meu mestrado e doutoramento no reino unido. Para poder continuar a desenvolver estes meus interesses e o meu espírito interdisciplinar de uma forma mais activa, produtiva e prática, não fez para mim sentido continuar integrada num centro de literatura ou história da ciência, mas sim num centro dedicado à antropologia/antropologia evolutiva. Foi isso que fiz, com o total apoio dos meus orientadores. Já tinha sido avisada de que o painel poderia não ver com bons olhos esta mudança. E não viu. Fui avaliada com um "CV de mérito" (lic de 16, mestrado, dout, conferências organizadas, publicações, participação em projectos etc., "mas não em antropologia", o que fez com que a minha classificação fosse muito penalizada (uns míseros 3 pontos), apesar de toda a minha investigação ser nitidamente de cariz evolutivo. Apesar de compreender perfeitamente e respeitar esses receios por parte do painel, não percebo nem concordo com esta tendência de compartimentalizar saberes e de colocar os investigadores em "caixinhas", especialmente ao nível de um pós-doutoramento. Por exemplo, o júri tb não aceitou o meu primeiro centro, avaliado em excelente, porque não era (ou antes, não está na lista) de antropologia...
Obrigada.
Sara

[Tiago H. Silva]

Olá.

De facto, esses são os dois "problemas" que eu veria na candidatura a uma área diferente. No entanto, não há mal nenhum que o faças, desde que, como dizes, haja alguma ligação. Mais do que isso, eu até sou dos que defende que no pós-doc se deve fazer uma coisa diferente do doutoramento...
Quanto ao caso concreto, acho que deves recorrer, mostrando que a tua formação se adequa ao projecto em concreto e à área a que concorres, apesar de não ter esse "selo". Por outro lado, relativamente às condições de acolhimento, tenta também mostrar o valor do centro na área a que concorreste, apesar de não estar listada nessa área.
A título de curiosidade, eu concorri a uma área diferente no pós-doc, mas havia ligação com o doutoramento. Na verdade, correspondia a uma conjugação de interesses e de saberes entre a minha área de formação e de especialidade (doutoramento) e a área de trabalho do novo grupo. Referi isso mesmo na candidatura e correu bem...

Tiago

[saragsilva]

Olá Tiago.
Obrigada pela tua resposta e pelas palavras encorajadoras. Pois, nestas coisas há que ser realista e fazer as coisas com calma e ponderação. Não morreu ninguém e era uma possibilidade, mas que chateia chateia . Sinceramente, acho que depende imenso da perspectiva de quem está a avaliar, especialmente no caso dos pós-doc, onde não se percebe muito bem quais são os critérios objectivos para cada secção (sabes quais são?). Ontem na FCT disseram-me que são exactamente os mesmos do que para as BDs, mas custa um bocado a acreditar nisso, não acho que faz muito sentido. Enfim, sim vou recorrer, maravilha! E com isto tudo o resultado será muito possivelmente o mesmo...paciência.
É que fui corrida a 3 no mérito e no projecto...nas unidades lá me deram mais um bocadinho porque não puderam rejeitar o segundo centro (tinha o selo certo)...apesar do primeiro ser o melhor e mais reconhecido centro em evolução em Portugal, o CIBIO, e é onde está o meu orientador principal, também ele antropólogo e biólogo, o que acho que chegava para fundamentar a minha escolha...mas não "está na lista". Damn!
Enfim, não há cá lugar para fatalismos nem choraminguices. É o que está! Só posso argumentar o melhor possível e começar já a ver outras saídas até porque o co-orientador do centro estrangeiro sempre me disse que estava muito interessado no projecto fosse qual fosse o resultado...enfim.