paolo wrote:Na realidade, esta é quase uma vitória de Pirro, no que toca ao concurso para bolsas de pós-doutoramento. Vejamos: no concurso do ano passado, pelo que conheço, rarearam - e muito - as bolsas concedidas a quem não havia defendido a tese de doutoramento à data de fecho do concurso. Logo, não creio que seja uma indução muito audaz acreditar que o mesmo se irá passar este ano. Portanto, a ABIC o que terá conseguido não tem quase efeitos alguns positivos na concessão de BPD. O efeito que tem será ao nível estatístico. Mais bolsas recusadas - os que se candidatam sem o doutoramento concluído à data de fecho do concurso - é que se garante com esta "vitória" e, consequentemente, menor percentagem total de bolsas concedidas.
No entanto, com esta vitória quase irrelevante, no imediato, a ABIC perdeu tempo negocial para corrigir os desequilíbrios fundamentais do concurso de BPD. Concretizando:
1) Desapareceu a regra que penalizava quem se havia doutorado há mais de seis anos;
2) Continua a ser possível a quem está a terminar o seu pós-doc voltar a candidatar-se a mais seis anos;
3) Continua a ser possível quem se candidate, simultaneamente, às BPD e ao Investigadores FCT;
4) Continua a não existir protecção alguma aos candidatos portugueses (ao contrário que é regra em toda a europa ocidental, onde as quotas são norma).
Ou seja, este ano -E COMO NUNCA - o concurso é particularmente simpático para quem já se doutorou há uns anitos e que de preferência não seja nacional. É que quem já fez ou estar a terminar um pós-doc, em condições normais, terá muito melhor CV que um "doutorado de fresco". É que quem é professor universitário, em condições precárias, num país em crise na Europa (leia-se, Espanha, Itália, UK, França...) tem neste concurso as portas abertas a seis anos para procurar trabalho enquanto tem uma BPD (e ao fim de seis anos poderá candidatar-se a mais seis), suplantando tranquilamente o tal recém doutorado português tão arduamente conquistado pela ABIC. Foi assim no ano passado; será assim este ano.
Portanto, ao invés de investir no que era fundamental, a ABIC foi-se no que é para a estatística. Uma vitória que é uma derrota. Ou então, houve, e há, apenas intenções de política geral e que ultrapassam o corrente concurso.
Caro Paolo,
Não me parece que as coisas sejam assim tão lineares...
"Vejamos: no concurso do ano passado, pelo que conheço, rarearam - e muito - as bolsas concedidas a quem não havia defendido a tese de doutoramento à data de fecho do concurso."
Na área que me candidatei soube de um caso assim que ficou em segundo ou terceiro da lista...
A única razão de ser da limitação imposta pela a FCT era: estatística! O que faz haver mais ou menos bolsas é a quantidade de dinheiro e essa redução já foi assumida pela própria FCT. Assim sendo, com esta limitação em vez de a percentagem de bolsas atribuídas ser real, iria estar mascarada.
Com a alteração ao concurso a ABIC conseguiu duas coisas: 1) que a estatística mostre os atuais cortes nas bolsas e 2) que candidatos com um bom CV e em fase de conclusão de doutoramento não sejam impedidos de se candidatar e ficar ano e meio à espera (sabe-se lá a fazer o que...)
Quanto aos teus pontos:
"1) Desapareceu a regra que penalizava quem se havia doutorado há mais de seis anos;"
É verdade, mas segundo o Guião de Avaliação o Índice de Publicações é valorizado se o doutoramento tiver sido concluído há menos de 3 anos.
"2) Continua a ser possível a quem está a terminar o seu pós-doc voltar a candidatar-se a mais seis anos;"
E porque a FCT há-de de impedir isso? Cabe aos investigadores quererem mais da sua "vida"... pós-doc atrás de pós-doc não me parece uma boa "solução de vida"... Mas cada um sabe de si...
"3) Continua a ser possível quem se candidate, simultaneamente, às BPD e ao Investigadores FCT;"
Mais ou menos... Para Investigador FCT é preciso ter o doutoramento há pelo menos 3 anos. Nem todos os candidatos estão nessa situação. Para além disso, as desistências de bolsas antes de assinar contratos em geral são (re)atribuídas nos recursos.
"4) Continua a não existir protecção alguma aos candidatos portugueses (ao contrário que é regra em toda a europa ocidental, onde as quotas são norma)."
Aqui concordo... Não podemos continuar a ser "mais papistas que o próprio Papa"
Continuam haver "questões"? Claro que sim! Por exemplo: eu não percebo porque se uma bolsa pode começar depois de Janeiro de 2014 porque o grau tem de estar concluído até essa data... No entanto, acho que uma vitória é uma vitória e esta foi da ABIC e dos bolseiros!